Críticas Adagio Sostenuto



Jornal do Brasil
“Silêncio que fica na memória”,
por Daniel Schenker
15/05/2009


Em Adagio Sostenuto, o diretor Pompeu Aguiar discute as bordas da existência e da imagem cinematográfica. Ressalta uma diferença fundamental: para fazer o tempo retroceder no cinema, basta apertar uma tecla; na vida, não há como manipular. O passado só se torna presente através das lembranças.

Confrontada com a impotência diante da morte de José, Anna, única personagem que transita pela tela (interpretada com sutileza e vigor por Dedina Bernardelli), vira portadora de um desespero que não passa. Os espaços desertos no filme potencializam sua sensação de desolação. Também são imagens de uma natureza intocada, evidências de um tempo que parece estagnado.

O cineasta conduziu os atores (Alexandre Borges, especialmente bem, e Priscilla Rozenbaum participam em off) sem imprimir uma carga de intencionalidade ao texto, que adquire uma qualidade hipnótica e propicia ao público aproveitar a experiência da escuta. Muitos espectadores poderão resistir. Em todo caso, o filme tende a permanecer na memória após a projeção do último plano.


*    *    *